sábado, 22 de fevereiro de 2014

A BR-290 E OS TONS DO PERIGO


ZERO HORA 22 de fevereiro de 2014 | N° 17712


ANDRÉ MAGS | PANTANO GRANDE


ARMADILHAS. Buracos e desníveis são desafios no trecho Porto Alegre-Pantano Grande



Um concerto no asfalto começa a reger o trânsito na rodovia Porto Alegre-Pantano Grande (BR-290). Pode ser um naipe de metais – o carter batendo contra a elevação na pista pouco antes do pedágio abandonado da Univias no sentido Interior-Capital – ou um bumbo seco – o pneu caindo em alguns dos buracos entre Arroio dos Ratos e Pantano Grande.

As viagens por esse trecho da BR-290 têm sido acompanhadas por essa trilha sonora desde as primeiras semanas de 2014, calculam usuários contumazes da via. Foi pouco depois de o pedágio da Univias deixar de ser cobrado.

Ontem, alguns sinais de recapeamento emergencial mostravam que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) percebeu o perigo. A autarquia diz que aguarda que a empresa vencedora da licitação para restauração da estrada assuma o serviço. A solução definitiva será a duplicação e restauração de trechos de 57,5 quilômetros de extensão, em um investimento de mais de R$ 300 milhões prometido pela presidente Dilma Rousseff na inauguração da Rodovia do Parque, em dezembro. Enquanto isso, porém, segue arriscado circular pelo trecho.

Voltando de férias em Santa Maria para Porto Alegre, o eletrotécnico e estudante de Engenharia na PUCRS Jean Kessler, 31 anos, sentiu o baque em um afundamento nas proximidades do posto da Polícia Rodoviária Federal em Pantano Grande. Parou mais adiante para conferir e confirmou o estrago na parte interna da calota do seu Corsa. Pararia no primeiro posto de combustíveis para analisar melhor o estrago.

– Fazia uns seis meses que eu não percorria essa estrada. Piorou bastante desde então – observou.

“É o pior momento em três anos”, afirma motorista

Quem conserta pneus furados na área da BR-290 tem trabalhado mais do que o normal. O borracheiro Flavio Roberto Trindade da Silveira, 49 anos, estava com o macacão sujo de graxa. Ganhou mais trabalho nos últimos meses por causa, principalmente, de uma cratera que arrebentava pneus na entrada para Arroio dos Ratos. Há cinco anos no mesmo ponto à beira da BR-290, nunca teve tanto serviço. Chegou a suspirar antes de dizer:

– Igual como está agora, tá louco. De Pantano Grande para cá, está horrível – afirma o profissional.

Três vezes por semana, Darin Feijó Gomes, 51 anos, encara a BR-290. A frequência o transformou em um expert sobre a via. Observador, coleciona situações que testemunhou ou ficou sabendo, como um amigo que perdeu o carter ao bater em um calombo de asfalto ou um caminhão que saiu da pista ao se desgovernar nas irregularidades da pista. A opinião dele é de que o fim da concessão pedagiada foi prematuro, por não haver um plano B pronto para ser colocado em prática:

– É o pior momento da rodovia nos últimos três anos. Que diferença faria tirar o pedágio um pouco depois? Agora a estrada fica assim, sem pai nem mãe – afirma.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

VIOLÊNCIA BANAL NO TRÂNSITO

ZERO HORA 20 de fevereiro de 2014 | N° 17710

JOSÉ LUÍS COSTA

O drama do garoto Maurício

Após discussão de trânsito, em 2011, na zona norte da Capital, adolescente foi atingido por tiro na coluna e passa os dias na cama


O menino pobre da Vila Nazareth, na zona norte de Porto Alegre, realizaria um desejo de infância naquele começo de tarde de sábado, 2 de julho de 2011. Aos 12 anos, Maurício Luan Maciel de Oliveira, iria conhecer um parque de diversões, com tudo que tinha direito, roda-gigante, montanha-russa, carrossel, pipoca e maçã-do-amor.

Amãe, Clair da Silveira Maciel, bem que tentou convencê-lo a mudar de ideia por causa do tempo ruim, céu carrancudo e temperatura beirando 10ºC. Mas o garoto bateu pé, e ela cedeu. Maurício se divertiria com as duas irmãs, a caçula Vitória, 7 anos, e Gabriela, 17 anos, levados pelo companheiro da adolescente, o comerciante Marcelo Ignácio, 27 anos.

Mas Maurício não chegou ao parque. Nunca andou na roda-gigante. E pior, jamais voltou a dar um passo na vida. Uma discussão banal de trânsito entre Ignácio e um conhecido da Vila Nazareth, Odair José Moizinho da Silveira, na época com 25 anos, abortou o passeio a tiros e deu início ao drama do garoto.

Ignácio saiu de Alvorada para pegar os três jovens na Avenida Sertório, próximo ao acesso à Nazareth. No trajeto, os motoristas se cruzaram. Odair, dirigindo um Escort, teria cortado a frente do Tipo de Ignácio. Quadras depois, os dois pararam na entrada da Vila Nazareth e discutiram. Os ânimos serenaram por alguns instantes, e os irmãos, sob o olhar atento da mães, entraram rápido no Tipo para sair logo dali. Maurício foi o último a sentar no banco traseiro do carro.

Quando o veículo arrancou, Odair surgiu com uma arma. Estaria portando um pistola calibre nove milímetros e atirou na direção da família.

– Me escondi atrás de um poste e gritei: o que é isso? Meus filhos estão lá dentro. Se ele não tivesse descarregado a arma, acho que me mataria porque eu era a única testemunha. Depois, ele entrou na vila como se nada tivesse acontecido – lembra Clair.

Os tiros vararam pela Sertório. Todos os disparos foram a esmo, menos um, que atingiu as costas de Maurício. Por instantes, ninguém percebeu o adolescente ferido, estático e sem falar. Assim que a irmã viu sangue escorrendo na roupa dele, Ignácio seguiu às pressas para o hospital. Os médicos pouco puderam fazer. O projetil perfurou o tórax, o pulmão e a medula, alojando-se na coluna cervical. Após uma semana na UTI, veio o trágico diagnóstico: Maurício estava tetraplégico.





Apaixonado pelo Grêmio, garoto não perde um jogo

O menino serelepe que se espichava com agilidade para defender os chutes do time adversário nas peladas com amigos e sonhava ser goleiro do Grêmio, há quase três anos só consegue mexer a cabeça e parte dos braços, encolhido sobre uma cama.

Atingido por um tiro que lesionou a medula abaixo da nuca e o colocou em um leito, no videogame, navegando pela internet com um notebook e assistindo aos jogos do tricolor do coração, o garoto tem seus momentos mais felizes.

– É um bebê de 15 anos, que vive assim. É tão fanático que, quando o Grêmio aparece na TV, ele corre com todos que estão perto para não atrapalhar – conta a mãe, Clair Maciel de Oliveira, 42 anos.

Ela gostaria que o filho pudesse estudar – o garoto parou na 5ª série – ou mesmo saísse para rua se distrair, mas as empoeiradas vielas da vila são veneno para os pulmões do garoto.

Na moradia humilde, Maurício ocupa um quarto com cerca de 10 metros quadrados, rodeado de medicamentos e utensílios necessário para sobreviver. Parte deles doado ou emprestado como a cama de hospital e o condicionador de ar. A colcha, o lençol e a fronha do travesseiro são adornadas com o distintivo do Grêmio, que também aparece em dois quadros pendurados nas paredes.

Família gasta R$ 1 mil mensais com remédios, fraldas e óleos

Maurício ganha alguns remédios e material para curativo, mas os pais gastam cerca de R$ 1 mil mensais com antidepressivos, óleos e fraldas – o garoto precisa usar duas de cada vez para evitar que a urina penetre em uma ferida nas costas.

A situação de Maurício obrigou o pai, o afiador de facas Clodoaldo Araújo de Oliveira, 40 anos, e a mãe dele a abandonarem seus empregos. Para ficar perto do garoto em tempo integral, o casal abriu um modesto armazém na frente da casa.

Tímido por natureza, Maurício evita falar com quem não conhece.

– O que mais me revolta é que quem fez isso com ele anda solto por aí – lamenta a mãe.


CONTRAPONTO - O que diz Alisson de Lara Romani, defensor público que representa Odair José Moizinho da Silveira - Entrei no caso para elaborar um recurso ao TJ contra a sentença de pronúncia. O objetivo é que ele (Odair) não vá a júri popular. Não estou autorizado a comentar a tese de defesa.


Acusado está desaparecido

Odair sumiu da vila após o crime, mas como as vítimas anotaram as placas do Escort, ele foi localizado por agentes da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa e indiciado pela tentativa de homicídio do garoto. Dois meses após o crime, o promotor André Gonçalves Martínez apresentou denúncia à Justiça, pedindo a condenação de Odair por quatro tentativas de homicídio contra Maurício, Gabriela, Vitória e Ignácio. Martínez entendeu que Odair agiu por motivo fútil, usou recurso que dificultou a defesa das vítimas e provocou perigo comum, por efetuar disparos em via pública.

Um mês depois, a Justiça acolheu a denúncia, iniciando o processo, mas por duas vezes negou pedidos da Polícia Civil e do Ministério Público para prender Odair. Em setembro do ano passado, a 1ª Vara do Júri emitiu sentença de pronúncia, determinando que o Odair sente no banco dos réus, submetido a júri popular. Ele recorreu da decisão, e desde novembro não é localizado pela Justiça. Se for condenado pelos quatro crimes, poderá ser punido com 20 anos de prisão.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

PROTEÇÃO PARA OS JOVENS


ZERO HORA 19 de fevereiro de 2014 | N° 17709

ENTREVISTA

“Precisamos encontrar uma proteção para os jovens”




Mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), consultor em segurança e educação no trânsito e autor de livros sobre o tema, Eduardo Biavati, 48 anos, assessorou o Detran-RS em 2012 e 2013. Ele salienta que ainda “há um longo caminho” para diminuir a carnificina nas ruas e estradas. Leia trechos da entrevista a ZH:

Zero Hora – Por que houve queda de mortes no trânsito do Estado?

Eduardo Biavati – O Rio Grande do Sul adotou uma política intersetorial para lidar com essa questão, um esforço entre Detran, polícias rodoviárias, Brigada Militar e operações de controle. É algo que vemos de maneira muito parcial em outros lugares. O resultado indica mesmo uma tendência de redução de acidentes, parece estar ficando consistente. Porém, apesar do sucesso e das centenas de vidas que foram poupadas, ainda estamos longe de dizer que o problema foi domado.

ZH – O governo está investindo bem o dinheiro nas ações de prevenção e fiscalização?

Biavati – Tudo bem, salvamos centenas de vidas e 9% (redução de mortes no trânsito desde 2010) não é irrelevante de jeito nenhum, mas o que ainda quero ver nos próximos anos é o aprofundamento das estratégias. Só ter a boa-fé não adianta. Isso custa muito dinheiro. A recomendação da Organização Mundial da Saúde é que cada Estado e país tenha um órgão, uma agência, que cuide da coordenação desse trabalho. Hoje, os órgãos têm um tantinho de dinheiro, não existe um orçamento independente que coordene. Quem manda é o Detran, mas ele não tem como passar dinheiro para a Secretaria de Saúde para comprar ambulância, por exemplo.

ZH – Quais são as ações mais urgentes?

Biavati – Já demos um grande passo fazendo todo o mundo sentar à mesma mesa, mas não demos o passo de estabelecer um orçamento estadual independente para coordenar as ações e dar sustentabilidade da conquista a longo prazo. Precisamos encontrar uma proteção para os jovens. A Austrália, Espanha, França e Inglaterra, por exemplo, fazem campanhas mais fortes e permanentes do que nós. Temos de manter a pauta nas escolas, falar nisso até cansar.

OS DIAS MAIS ARRISCADOS PARA DIRIGIR

ZERO HORA 19 de fevereiro de 2014 | N° 17709


BALANÇO DE 2013



No topo da estatística fatal do trânsito de 2013, a equação juventude, balada e final de semana mostrou-se a mais perigosa e preocupante.

Conforme os números do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), no somatório de todos os sábados e domingos do ano passado, morreram 789 pessoas (39,77% do total), sendo 347 nos turnos da noite e madrugada e 168 pela manhã. Em 2012, foram registradas 818 mortes nos fins de semana.

Jovens dos 18 até os 29 anos representam 29,4% (584) de todos os óbitos, e a grande maioria das vítimas – 1.549 (78,1%) – é do sexo masculino. Nos demais dias da semana, a noite, com 684 (34,5%) ocorrências, é a mais arriscada para trafegar, conforme as estatísticas oficiais.

Para o chefe da Operação Balada Segura, Adelto Rohr, o comportamento desse grupo de motoristas precisa ser alterado urgentemente.

– Eles têm de saber que são os responsáveis por essa mudança. É necessário o convencimento, por isso a blitz é eficaz. Não tenho expectativas de grandes diminuições no curto prazo, prefiro que a redução seja gradativa, constante e continuada – afirma Rohr.

Brasil gastou R$ 210 milhões com internações em 2012

O consultor em segurança e educação no trânsito Eduardo Biavati alerta que não são apenas as famílias que lamentam as vidas arrancadas precocemente pela violência do trânsito. Com o tempo, haverá uma conta a ser paga pelo Estado:

– Nós ainda não conseguimos alterar o padrão do problema, lidar com esse público. Especialmente no Rio Grande do Sul, a mortalidade entre os jovens custa muito, porque o grupo etário é cada vez menor devido ao crescimento de somente 0,4% ao ano, em média. Isso vai nos faltar daqui a 20, 30 anos. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já diziam em 2010: se não integrar as várias políticas de trânsito, transporte, conscientização e saúde, não se sai do buraco.

Segundo o “Mapa da Violência 2013”, publicado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, os acidentes de trânsito representam um custo global de US$ 518 bilhões ao ano. O Brasil, em 2012, gastou R$ 210 milhões com internações hospitalares pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A perda de produção em decorrência disso foi estimada em R$ 4,5 milhões. Se continuar nesse ritmo, a OMS estima que deveremos ter 2,4 milhões de mortes no trânsito em 2030 em todo o mundo.



MORTES EM QUEDA NO RS

ZERO HORA 19 de fevereiro de 2014 | N° 17709

MAURICIO TONETTO

BALANÇO DE 2013. Mortes em queda no trânsito

Levantamento de acidentes graves no Rio Grande do Sul, divulgado ontem pelo Detran, mostra redução de 5,1% dos óbitos



O trânsito gaúcho ceifou a vida de 1.984 pessoas em 2013 – mais de cinco por dia –, conforme balanço divulgado ontem pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran). O número, apesar de elevado, traz um alento: em relação a 2012 (2.091 mortes), houve queda de 5,1% dos óbitos em ruas e estradas do Rio Grande do Sul.

Odecréscimo na estatística é atribuído às punições da Lei Seca, maior conscientização da sociedade, intensificação das operações de fiscalização e atuação conjunta entre polícias, Detran e Brigada Militar. Desde 2010, o número de mortes caiu 9,4% no Estado.

– A preocupação é sermos perseverantes e progressivos na aplicação das políticas públicas. Se não, há um descrédito da população e tudo vai por terra. Temos um esforço de estruturação do Detran, nomeamos mais de 200 servidores e há mais recursos sendo alocados para as ações que pretendemos – afirma o diretor-presidente do órgão, Leonardo Kauer.

A especialista em segurança viária Marta Obelheiro, da ONG Embarq Brasil, entende que a redução “não é um acaso”, mas pondera que o salto positivo virá com investimentos em engenharia de tráfego, para que as cidades e estradas do Estado ofereçam mais segurança aos condutores:

– Estão sendo feitos muitos esforços de legislação, cultura, fiscalização e conscientização para que essa diminuição aconteça. Essa redução é importante e necessária, pois o número de mortes no trânsito é alto demais no Brasil e também no nosso Estado. Mas temos de lembrar que muito ainda precisa ser feito. Todos os países que construíram um ambiente mais seguro aos usuários com engenharia de tráfego tiveram mudanças expressivas e sustentáveis.

Os dados do Detran revelam que a maioria dos acidentes com vítimas fatais em 2013 – 1.078 (60,9%) – aconteceu em rodovias. Os automóveis, com 1.160 mortes (38%), e as motocicletas, com 643 (21%), lideram os índices de ocorrências.

Tarso diz que imprudência é fator decisivo para acidentes

De acordo com o governador Tarso Genro, a combinação álcool e direção e a imprudência são fatores determinantes. No ano passado, 20,8 mil condutores foram multados por dirigir sob influência de substâncias entorpecentes:

– É necessária uma legislação punitiva adequada, que tenha fiscalização sobre ela. Mais de 90% dos acidentes ocorrem por imperícia, negligência e imprudência. Isso significa que temos espaço para avançar, não só com políticas públicas, como também conscientizando a população de que o automóvel é um instrumento, não uma arma ou elemento de produção de aventura.

Desde o feriado da Proclamação da República, em novembro de 2011, até o último Réveillon, 2,4 milhões de veículos foram abordados em blitze da Operação Viagem Segura em rodovias estaduais e federais e 31,6 mil, recolhidos. No total, foram registradas 345 mil infrações. Já no âmbito da Balada Segura, 8 mil motoristas receberam multas por embriaguez ao volante em 70 mil testes de bafômetro, realizados em motoristas de 88 mil veículos abordados nos últimos três anos.


REDUÇÃO AQUÉM DO POTENCIAL

ZERO HORA 19 de fevereiro de 2014 | N° 17709


PÁGINA 10 | JULIANO RODRIGUES (Interino)




A queda de 9,4% no número de mortes no trânsito do Rio Grande do Sul durante os últimos três anos, apresentada pelo governo do Estado ontem, é um dado que deve mostrar ao Detran e ao Piratini que é possível reduzir ainda mais os acidentes nas ruas, avenidas e estradas, basta investir na prevenção.

Com um baixo percentual de investimento em ações de conscientização – em comparação com o que arrecada – já foi possível poupar 517 vidas em 2013, segundo calcula a autarquia. É pouco, tendo em vista que 1.984 morreram durante o ano, uma média superior a cinco óbitos por dia. Enquanto a polpuda arrecadação do Detran servir, em sua maioria, para bancar outros gastos do Estado, e não programas de prevenção, será difícil vislumbrar uma queda mais expressiva e drástica nas mortes.

Somente em 2013, o departamento arrecadou mais de R$ 1 bilhão. E investiu apenas R$ 18 milhões em ações de prevenção. Para 2014, o orçamento do Estado prevê três rubricas de investimento no Detran. São mais de R$ 10 milhões iniciais, sendo a maior parte, R$ 5,9 milhões, no programa Balada Segura, que é feito em parceria com a Brigada Militar e prefeituras. Em 2013, o projeto que inibe o consumo de bebidas alcoólicas por parte dos motoristas recebeu do Detran pouco mais de R$ 3 milhões. Apesar de aumentar o número de equipes da Balada Segura e prever a sua disseminação por mais cidades do Rio Grande do Sul, o Detran terá pouco dinheiro para investir em outras ações, porque estará financiando despesas diversas do Estado.

Além da prevenção e conscientização dos condutores, há a difícil missão da Polícia Civil, do Ministério Público e do Judiciário de reduzir a impunidade dos crimes cometidos ao volante. A pedido da Página 10, a Susepe fez um levantamento e constatou que, entre os mais de 28 mil presos que cumprem pena nas cadeias do Estado, há apenas 22 condenados por crimes de trânsito. Por reincidência de consumo de álcool na direção, não há ninguém detido. Punir os infratores também é necessário como forma de dar o exemplo para os motoristas que cometem crimes e não são flagrados.



ALIÁS

Juízes, promotores e delegados com atuação na área de trânsito reclamam que a legislação brasileira, apesar de aplicar multas elevadas, ainda é branda no que diz respeito à prisão de motoristas infratores.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É lógica a reclamação de juízes, promotores e delegados, pois a legislação brasileira não consegue ser dura conta os infratores, nem com os criminosos e tampouco com os corruptos e corruptores, pela existência de uma Constituição cheia de direitos, condescendências e ligações assistemáticas e burocratas que limitam a execução e a aplicação de leis coativas. A Lei Seca, a Lei dos Crimes Hediondos e a Lei Maria da Penha são exemplos disto.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

UMA PESSOA É BALEADA APÓS SUPOSTA BRIGA DE TRÂNSITO

G1 05/12/2013 09h40

Uma pessoa é baleada após suposta briga de trânsito no DF. Ainda não há informações sobre o estado de saúde da vítima., Segundo a Polícia Civil, discussão teria começado numa faixa de pedestre.

Do G1 DF



Uma pessoa foi baleada no fim da manhã desta quarta-feira (4) após uma suposta briga de trânsito, na Epia Norte, próximo à antiga Rodoferroviária. A vítima foi socorrida pelos bombeiros e transportada de helicóptero para o Hospital de Base de Brasília.


Militar do Corpo de Bombeiros observa o interior do carro onde uma pessoa foi baleada. No vidro traseiro, há uma marca de tiro (Foto: TV Globo / Reprodução)

Até a publicação dessa matéria, ainda não havia informações sobre o estado de saúde da pessoa baleada.

Não se sabe ainda com quem o atirador teria discutido. Segundo informações da 3ª DP, a briga começou próximo à Administração do Sudoeste, em uma faixa de pedestre. Dois carros estavam passando pelo local. Um veículo teria fechado o outro.

Ainda segundo a 3ª DP, ao passarem perto da antiga Rodoferroviária, o atirador teria efetuado os disparos, com o carro em movimento. No veículo da pessoa baleada, havia outras três pessoas. A vítima estava no banco que fica atrás do motorista.

Na lataria do veículo da vítima ficaram marcas de três tiros.

BRIGA DE MULHERES NO TRÂNSITO EM BRASÍLIA

G1. Motoristas apartam briga de mulheres após batida em Brasília. Carros se chocaram na tesourinha da quadra 103 Norte na quarta-feira (12). Houve troca de puxões de cabelo, socos e chutes entre as duas condutoras.

Do G1 DF

Motoristas brigam após batida no trânsito em tesourinha da Asa Norte, em Brasília (Foto: Bárbara Alvarenga/Arquivo pessoal)

Uma briga de trânsito entre duas mulheres em uma tesourinha da quadra 103 Norte, em Brasília, precisou ser apartada por motoristas que passavam pelo local na tarde de quarta-feira (12).

Segundo a motorista Bárbara Alvarenga, que fotografou a discussão, as agressões começaram depois que uma das mulheres atingiu a traseira do veículo da outra.

"A moça do carro preto bateu atrás do branco, e a moça que estava no Voyage branco já desceu muito nervosa e, pela janela da outra, tentou arrancar a chave [do contato]", contou Bárbara. "Como ela não conseguiu, deu um tapa na cara da outra, e os óculos de grau dela [que foi atingida] voaram para fora."

Segundo a testemunha, em seguida a motorista agredida desceu do automóvel e houve troca de puxões de cabelo, socos e chutes entre as duas.

"Um senhor que estava na pista oposta desceu, eu também desci, e fomos tentar afastá-las. Quase apanhei também. A mulher do carro branco estava muito alterada", disse Bárbara.

Antes de ir embora, a motorista que iniciou as agressões pegou os óculos da outra, que haviam caído no chão, e foi embora com eles.

"Ela fugiu. O pior foi que, como ela levou os óculos, que eram de grau, a outra mulher não conseguia nem ir embora", afirmou Bárbara. "Quem tirou o carro da pista foi outro homem, para o trânsito poder fluir, pois tinha parado totalmente durante a briga."

sábado, 1 de fevereiro de 2014

NO PAÍS DA NEGLIGÊNCIA

REVISTA ISTO É N° Edição: 2306 | 31.Jan.14


Combinação de irresponsabilidade do condutor, ausência de tecnologia e falta de fiscalização explica acidentes como o que matou cinco pessoas no Rio de Janeiro

Wilson Aquino, Michel Alecrim e Raul Montenegro (waquino@istoe.com.br)


IMPUNIDADE
Rio de Janeiro, terça-feira 28: caminhão com caçamba levantada
destrói passarela e mata pessoas diante das autoridades de trânsito

Eram 9 horas da terça-feira 28 quando Adriano Pontes de Oliveira, 26 anos, saiu de casa, na favela Águia de Ouro, em Inhaúma, zona norte do Rio de Janeiro, para o trabalho em uma agência bancária em outro bairro. Ele deveria atravessar a passarela sobre a Linha Amarela para pegar o ônibus. Mais ou menos no mesmo horário, a cinco quilômetros dali, Luiz Fernando da Costa, 30 anos, assumia o volante do caminhão com caçamba placa LLN 2225, em Água Santa, também na zona norte, com destino à região portuária. Costa resolveu cortar caminho pela Linha Amarela, apesar de saber que não poderia trafegar ali naquele horário, acelerou além do limite permitido de 80 km por hora e atendeu o celular. Motorista profissional há uma década, ele não temia a fiscalização, praticamente inexistente e comprovadamente ineficiente, e muito menos as multas irrisórias pelas infrações. Com a atenção desviada, não percebeu que a caçamba fora totalmente içada e, sem sensores que pudessem alertá-lo, seguiu em frente. A conjunção de negligências fez o que era previsto: 13 minutos depois, a caçamba derrubava a passarela e tirava a vida de Oliveira e de mais quatro inocentes.

A dona de casa Célia Maria, 64 anos, que atravessava a passarela para ir à feira, não aguentou o impacto que demoliu as 120 toneladas de concreto e caiu morta no asfalto. As três outras vítimas estavam em carros que passavam embaixo e foram esmagadas pelo entulho de aço que caiu sobre elas. No local, morreram o taxista Alexandre Gonçalves de Almeida e o motorista de um Palio, Renato Soares, 62 anos. No dia seguinte, faleceu no hospital o passageiro do Palio, Luiz Carlos Guimarães, 60 anos. Outras quatro pessoas ficaram feridas, entre as quais o motorista Costa. Pela Linha Amarela, circulam 130 mil veículos por dia. A via de 25 quilômetros conta com 51 câmeras e cinco radares de velocidade, além de três sensores de asfalto, para fiscalizar a circulação de caminhões fora do horário permitido, e de 100 policiais militares, distribuídos em sete cabines e torres de vigilância, dois carros e duas motocicletas. Nos dez primeiros dias de 2014, a PM multou apenas 127 caminhões por trafegar fora da hora permitida. Um dia depois do acidente, surpreendeu 341, num aumento de 1.800%. São Paulo ainda não viu acidente nas proporções do ocorrido no Rio – mas corre o risco, se nada for feito. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), foram 22 colisões de caminhões com passarelas e pontes no ano passado na capital, causando um transtorno substancial para o trânsito já caótico da cidade, cortada pelas marginais Pinheiros e Tietê – vias repletas de pontes e por onde os caminhões são obrigados a trafegar. Apesar de representarem apenas 2% da frota paulistana, os caminhões contribuíram com 12% dos acidentes com vítimas da cidade.


ENTALADOS
Em São Paulo, é comum que carretas altas demais fiquem presas em
viadutos, como o da avenida Pacaembu (ao lado) e do Bresser (no alto)

O acidente na Linha Amarela poderia ter sido evitado se já estivesse em vigor o projeto de lei, de autoria do deputado federal Antônio Bulhões (PRB-SP), que torna obrigatória a instalação de um alarme para alertar motoristas no caso de a caçamba estar levantada. Na capital paulista, por exemplo, onde a intercorrência mais comum é a de grandes veículos presos sob alguma ponte por ter altura indevida, a principal medida de prevenção da prefeitura são as chamadas vigas de sacrifício – portais instalados antes da entrada dos túneis para impedir o acesso de carretas muito altas. “Elas são a última linha de defesa para impedir que o veículo avance”, afirma Ricardo Simões, gerente de produtos de uma empresa que desenvolve tecnologia para o trânsito. Especialistas de modo geral também pedem a instalação, em todo o Brasil, de mais radares medidores de altura e painéis luminosos que avisem o caminhoneiro sobre o excesso de altura antes de uma eventual batida. Mas o sociólogo e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Glaucio Soares diz que nenhuma medida adiantará se a falta de cultura cívica da população brasileira continuar. Um exemplo dessa incivilidade, segundo ele, é o perigoso hábito nacional de falar ao celular enquanto está dirigindo. Além da prática comum de tentar burlar os rodízios de veículos, muitos motoristas levantam a caçamba, por sinal, para esconder a placa e infringir a lei.

O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), Claudinei Pelegrini, aponta a carência de mão de obra treinada como outro grave problema. De acordo com ele, atualmente, faltam mais de 100 mil caminhoneiros no setor de transporte do País, o que faz com que muitos ­veículos fiquem parados no pátio. “Quando chega um motorista com carteira, muitas vezes ele assume um equipamento que não está preparado para dirigir, sem sequer passar por um curso de capacitação”, afirma Pelegrini. Estudioso de segurança e educação no trânsito, o sociólogo Eduardo Biavati atribui parte da responsabilidade às companhias que fazem o frete e deveriam monitorar se o veículo tem ou não condições de passar por determinada rota. Especialistas também chamam a atenção para a falta de interatividade dos agentes de trânsito em casos de emergência. “De que adianta ter muitas câmeras se os operadores ficarem olhando como se estivessem vendo tevê? Tinha de ter alguém que não deixasse o caminhão entrar numa via proibida”, afirma o engenheiro Fernando Mac Dowell. No ano passado, foram fiscalizados 7.170 veículos só em São Paulo, com 2.714 autuações por excesso de tamanho, mas o número ainda é baixo perto do exército de quase 150 mil caminhões na capital paulista – muitos deles, porém, vêm de fora e não entram na conta. No Rio, em 2013, foram aplicados 2.140.083 multas a veículos, das quais 123.372 a caminhões.



Apesar das falhas apontadas, a CET informa que o número de acidentes com carretas está caindo na cidade de São Paulo. A redução foi de 45% no ano passado em relação ao anterior, e o índice de acidentes envolvendo vítimas recuou entre 2011 e 2012. Especialistas ouvidos por ISTOÉ, porém, afirmam que o quadro só terá uma mudança efetiva se o valor das multas, que hoje é muito baixo para a maioria das infrações e acaba estimulando o não cumprimento das regras, for revisto. No Rio, a taxa é de R$ 85,13 e, na capital paulista, de R$ 127,69 para excesso de altura. O professor de engenharia de tráfego da Universidade de Brasília Paulo César Marques da Silva estima que há uma defasagem de 87% nesses preços. “É preciso que a multa de fato seja uma penalidade, e não um valor que se paga para cometer uma infração”, diz.

Fotos: YASUYOSHI CHIBA/AFP PHOTO; Mário Angelo/Folhapress;
Adriano Lima / Brazil Photo Press