sexta-feira, 31 de maio de 2013

ACESSO À VAGA DE DEFICIENTE VIRA CASO DE POLÍCIA

ZERO HORA ONLINE 31/05/2013 | 19h02

Acesso à vaga para estacionar vira caso de polícia na Capital

Pessoa com deficiência teve os pneus do carro furados por motorista que estacionou irregularmente


André Mags


O medo da funcionária do Foro Central da Capital Denise Duarte Bruno, 54 anos, é um dos efeitos do uso irregular de vagas de estacionamento destinadas a pessoas com deficiência em Porto Alegre.

O caso de Denise acabou na polícia depois que ela teve os pneus de seu carro furados, supostamente pelo dono de uma caminhonete denunciado por estacionamento irregular.

No início de maio, um homem estacionou sua caminhonete em um local proibido, entre duas vagas para pessoas com deficiência perto do Foro, uma delas ocupada pelo carro de Denise. Com dificuldades para se mover devido à poliomielite, ela não conseguiu entrar no seu veículo porque a caminhonete impedia a abertura da porta. Denise chamou a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e o veículo do infrator acabou guinchado. Mas ela foi alertada por colegas que o homem, possesso, prometeu "destruir" o carro dela da próxima vez.

— Uma ameaça desse tipo é assustadora, não consigo não me sentir intimidada. Não tenho deixado o carro na vaga, e isso me tem causado mais dificuldades no dia a dia — afirmou, na época.

O tempo passou, ela se tranquilizou e voltou a utilizar o espaço no dia 15 de maio. Aí, a ameaça se cumpriu. Ela teve os pneus de seu carro furados ao parar na vaga à qual tem direito. Percebeu a dificuldade na direção enquanto já trafegava pela Avenida Borges de Medeiros. Teve de entrar em um posto e pedir ajuda.

Agora, Denise não se atreve a parar mais no estacionamento que fica tão próximo ao seu trabalho. Prefere deixar o carro longe e ir a pé, lentamente, apoiada na sua muleta. Só que não deixou por menos: registrou ocorrência na polícia e procurou a EPTC para saber quem é o proprietário. O caso estava com o setor jurídico da EPTC, disse ela.

Vereador quer que punição seja aplicada

Para que o estacionamento seja garantido a veículos que transportam idosos e pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, o vereador Paulo Brum (PTB) pretende ampliar a punição existente.

— O Brasil inteiro vem fazendo campanhas para que não se ocupe as vagas indevidamente, e nunca deu certo. A partir do momento em que mexer no bolso do indivíduo, aí sim pode funcionar — disse o vereador.

Brum quer que sejam cumpridas as punições mesmo em locais fechados, como shoppings, onde os fiscais de trânsito não atuam. Os azuizinhos agiriam com a criação de convênios. Os próprios estabelecimentos poderiam denunciar os casos, chamando a EPTC. A matéria tramitava nas comissões da Câmara.

Há pelo menos outros três projetos na Câmara Municipal sobre o assunto, o que revela a dimensão que o desrespeito está tomando na cidade. Os vereadores Carlos Comassetto (PT) e Delegado Cleiton (PDT) apostam, respectivamente, na distribuição de panfletos aos infratores — a chamada "multa moral" — e na veiculação de mensagens sonoras nos estabelecimentos comerciais para alertar sobre o uso das vagas.

A falta de educação não se limita a Porto Alegre. Em Canoas, Luiz Fernando Tavares, 70 anos, desistiu de ir ao supermercado nos fins de semana porque todas as vagas em que poderia parar ficam ocupadas. Portador de paralisia, precisa de uma muleta e outro equipamento especial para se mover:

— Aqui é uma vergonha, o desrespeito do pessoal é avassalador. Se não fiscalizar, não adianta, mas os guardas dos supermercados dizem que não têm autonomia para multar.

sábado, 25 de maio de 2013

O IMPASSE ENTRE CARROS E BIKES

ZERO HORA 25 de maio de 2013 | N° 17443

CICLOVIAS LIMITADAS

Projeto para transformar ciclofaixas em estacionamento durante horário comercial reacende polêmica sobre disputa por espaço



Lajeado vive um dilema que se multiplica por muitas outras cidades gaúchas. Para ampliar as vagas para carros, um vereador local criou um projeto de lei que pretende destinar espaço das ciclovias do município para estacionamento em horário comercial.

Antes mesmo de ser encaminhada para votação na Câmara, a proposta já desperta polêmica e divide opiniões no município polo do Vale do Taquari. A ideia do vereador Sérgio Rambo (PT) é resolver o problema de falta de vagas na cidade, que tem uma frota de 34,4 mil automóveis, sem contar ônibus, motos e caminhões, segundo dados da prefeitura. Para o número de bicicletas, não há levantamento.

– Não quero terminar com as ciclovias, mas aproveitar esse espaço que não está sendo usado para uma grande necessidade que temos que é estacionar os carros – justifica Rambo.

O vereador utiliza como justificativa um levantamento feito em abril, quando circulou durante três horas pelos 2,1 quilômetros de ciclovia, e teria visto apenas um ciclista. Para reforçar a proposta, também afirma que o município não é ideal para andar de bicicletas, devido ao seu relevo.

Uso exclusivo também é debatido em Porto Alegre

Pelo projeto, que deve ser encaminhado à Câmara na terça-feira, o trajeto para ciclistas, que passa por pelo menos seis bairros, seria utilizado como estacionamento das 7h às 18h nos dias úteis.

– Feriados e finais de semana deixaríamos para os ciclistas, que são muito poucos – complementa.

A mudança apontada pelo vereador lajeadense é oposta às tentativas que se proliferam principalmente na capital gaúcha. Enquanto Rambo tenta convencer que os carros têm prioridade em Lajeado, em Porto Alegre, a luta dos ciclistas é para implantar a cultura das ciclovias, que muitas vezes precisará ocupar o espaço de veículos motorizados para se concretizar.

Recentemente pintada na Rua José do Patrocínio, na Cidade Baixa, mais uma faixa exclusiva para ciclistas na Capital, de 880 metros, alimentou o debate sobre a exclusão do estacionamento no trecho. Comerciantes alegam que a ciclovia, em vermelho no asfalto, poderá prejudicar os negócios.

*Colaborou Letícia Costa

VANESSA KANNENBERG* | LAJEADO




Em busca de local mais seguro para pedalar

Zero Hora fez um levantamento na quinta-feira, das 17h às 18h, em frente à maior escola de Lajeado, o Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, e contou nove ciclistas utilizando a ciclovia. Entre eles, três alunos do 5º ano do Castelinho, que afirmam utilizar bicicleta diariamente para ir à escola.

– Acho importante ter ciclovia porque é mais seguro. E mesmo tendo ciclovia, agora, já é difícil para a gente porque temos de desviar de carros que ficam em cima da faixa – conta Victor de Melo Santos, 10 anos.

Um desses veículos do qual Victor teve de desviar era conduzido por Marcos Reck, 37 anos, motorista de van escolar. Segundo ele, não há local seguro para recolher e desembarcar alunos em frente ao colégio, já que, após a calçada e a ciclovia, vem a rua de sentido duplo para carros. O estacionamento fica do lado oposto.

– Ou é em cima da ciclovia ou do outro lado da rua, o que seria perigoso para os alunos. Acho que o ideal seria mudá-la de lado ou colocar em outra rua – argumenta Reck.

Preocupado com esse e outros “conflitos viários”, o coordenador do Departamento de Trânsito da prefeitura de Lajeado, Euclides Rodrigues, afirma que um estudo deve ser feito para verificar em que locais a ciclovia oferece segurança aos ciclistas e onde poderia ser melhor utilizada.

– Sou a favor das ciclovias, sempre, pois mesmo que ainda não seja costume andar de bicicleta no município, é uma tendência mundial. Mas é preciso averiguar se as ciclofaixas existentes estão bem colocadas – avalia Rodrigues.

Com isso, ele admite, por exemplo, remover alguns trechos atuais da ciclovia e construir novos, em locais mais seguros para os ciclistas.

Um grupo de ciclistas do município, chamado de Pedalajeado, está mobilizado para buscar diálogo com o vereador. Em manifesto, os participantes pedem mais debate sobre a proposta. O grupo planeja participar da próxima sessão da Câmara para conhecer o projeto e, se houver espaço, manifestar a sua opinião.


Para especialista, uso de faixas deve ser apoiado

Atender à demanda crescente de carros com o traçado viário existente é algo visto como impossível pelo secretário-geral do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS), Rafael Passos. Para ele, cidades do Interior, como Lajeado, precisam incentivar a cultura já existente do uso da bicicleta, herança de colonizações como a alemã.

– Se começar a resolver atender ao veículo, cada vez mais veículos vão existir. O que vemos nas grandes cidades é a tendência de redução nas áreas centrais – comenta.

Ele aponta que há uma grande dificuldade de encontrar espaços disponíveis para a criação de ciclovias nas cidades. A substituição dos estacionamentos por faixas exclusivas para bicicletas faz parte de uma mudança de cultura, que na visão dele é essencial que ocorra.

– Precisamos imaginar como se estivéssemos fazendo uma reforma de casa, por exemplo. Não tem como desmanchar todo um tecido urbano já estabelecido para abrir e alargar vias. Tem de fazer uma escolha, ver se a prioridade é o veículo individual motorizado, o veículo coletivo ou a bicicleta – afirma.

Para o vereador da Capital Marcelo Sgarbossa (PT), esta é a grande decisão que os gestores devem tomar atualmente na questão da mobilidade urbana.

– Como a cultura está baseada nos automóveis, as ciclovias acabam não saindo – lamenta Sgarbossa.

TECNOLOGIA PARA AJUDAR O TRÂNSITO

ZERO HORA  25 de maio de 2013 | N° 17443

SOLUÇÕES URBANAS

Tecnologia para ajudar o trânsito em Porto Alegre. Comitiva de gaúchos conhece iniciativas inovadoras no Vale do Silício


Tecnologias aplicadas em San Francisco para facilitar o trânsito podem servir de inspiração para Porto Alegre. Uma das práticas que mais chamou atenção da comitiva gaúcha que viajou à Califórnia para conhecer iniciativas inovadoras é o aplicativo de celular que indica a disponibilidade de locais para estacionar.

A missão é organizada pelo Cite, um grupo de empreendedores que usa a sigla do projeto Comunidade, Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo para encontrar soluções inteligentes para problemas da cidade.

O mapeamento de vagas ajuda o motorista a encontrar um local de forma mais rápida, poupa tempo e diminui o risco de acidentes. Em vez de parquímetros, sensores instalados no chão enviam sinais para um programa que indica quais regiões da cidade estão mais lotadas e quais as mais disponíveis para estacionar em determinado momento.

O projeto, que já cobre 25% da cidade, é desenvolvido pelo departamento de trânsito de San Francisco. Uma escala de preços é definida para incentivar motoristas a não dirigir nos horários de maior movimento. O valor cobrado pelo estacionamento varia conforme a região e o horário.

Todo o dinheiro arrecadado com o estacionamento público é aplicado em melhorias no trânsito da cidade. E não há isenção para ninguém. Mesmo carros oficiais precisam pagar tarifa.

Convite para encontro estratégico na Capital

Estacionar na rua por 24 horas, todos os dias, custa cerca de US$ 7 mil por ano na cidade. Estacionamentos para bicicletas – San Francisco está cheia delas – são gratuitas.

– São práticas inteligentes e que não custam tão caro. Estamos colhendo informações, e a ideia é mandar agentes da EPTC para cá aprender com eles e mais tarde aplicar na nossa cidade – disse o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, um dos integrantes da Cite.

O grupo também teve um encontro com Regis McKenna, considerado um dos gurus de Steve Jobs. McKenna, criador da marca da Apple, apresentou estratégias para incentivar uma cidade inovadora, destacando a importância de investir em startups:

– O investimento em empresas da nova economia é semelhante a um trabalho de pesquisa. Na maioria das vezes, em 70% dos casos não há retorno consistente, mas é necessário ao desenvolvimento.

Na quinta-feira, durante visita à LinkedIn, na cidade de Palo Alto, Fortunati propôs aos executivos da companhia a realização do encontro estratégico anual do grupo em Porto Alegre. Hoje a comitiva visita uma empresa de segurança pública que utiliza tecnologia para prevenir a violência.

THIAGO MEDEIROS | ENVIADO ESPECIAL/SAN FRANCISCO

COMO FUNCIONA- Software ajuda a encontrar vaga em estacionamento em San Francisco

- O aplicativo – que pode ser utilizado tanto em smartphones quanto em tablets – indica a disponibilidade de vagas na cidade. As cores mostram diferentes níveis de ocupação. A vermelha representa regiões mais críticas, enquanto o azul mais claro, áreas onde está mais fácil achar estacionamento naquele momento.

- O programa também indica o preço dos estacionamentos disponíveis. Conforme o local, o valor cobrado para estacionar o carro pode variar. O verde escuro representa custos mais altos e o verde claro, as vagas mais em conta.

- O software informa, em números, a disponibilidade de lugar e o preço.

A INTERNET É INIMIGA



zero hora 25 de maio de 2013 | N° 17443

BALADA SEGURA 2013

Campanha educativa do programa a ser lançado amanhã tem como meta convencer os motoristas mais novos a não dirigir depois de beber e também a evitar as redes sociais para tentar fugir das blitze


LETÍCIA COSTA E MARCELO GONZATTO

A edição 2013 do programa Balada Segura será lançada, amanhã, com o desafio de mudar o comportamento de jovens que utilizam as redes sociais para tentar fugir das blitze. O foco da campanha educativa neste ano será convencer os condutores mais novos a não dirigir depois de beber, em vez de utilizarem estratégias como a divulgação dos locais de barreiras na internet ou adotarem comportamentos igualmente arriscados como tomar mais cuidado ao volante depois de consumir álcool.

Esse tipo de mentalidade contribuiu para que, em janeiro e fevereiro deste ano, a proporção de condutores flagrados embriagados pelo bafômetro nas blitze da Balada Segura tenha caído apenas 1,6% na comparação com o mesmo período do ano passado – apesar da maior presença das barreiras na rua e do endurecimento da lei. Desde o final do ano passado, o valor da multa aumentou de R$ 957 para R$ 1.915, e outros indícios são aceitos como prova além do bafômetro, como vídeos e testemunhos.

O maior impacto da nova legislação nos dois primeiros meses do ano, período mais recente com estatística disponível, envolveu uma queda de 29,9% nas recusas dos condutores a se submeterem ao bafômetro. Além disso, a proporção de condutores que foram flagrados embriagados, mas abaixo do limite que configura crime (0,33 miligrama de álcool por litro de ar expelido) teve uma redução de 5%. Mas o percentual de quem foi flagrado pelo exame acima desse patamar se manteve estável – ao redor de 1% de todas as 10,9 mil abordagens realizadas no primeiro bimestre deste ano.

Agora, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) espera contar com o apoio dos familiares para convencer os jovens motoristas a mudar de vez o comportamento. Campanhas publicitárias e nas mesmas redes sociais que eles usam para desviar das barreiras vão buscar mobilizar as famílias contra a imprudência ao volante.

– Pensamos em uma campanha voltada para as famílias, usando ferramentas como as redes sociais, para conseguir mobilizar a sociedade – afirma o diretor-presidente do Detran, Leonardo Kauer Zinn.

No momento, a internet vem se firmando como fator de risco à segurança no trânsito. Apenas um perfil no Twitter, por exemplo, é seguido por mais de 54 mil internautas interessados em saber onde está sendo montado todo tipo de blitz na Capital. Cinco amigas que dividiam cervejas e pastéis na noite de quinta-feira, em um bar da Cidade Baixa, fazem parte da multidão de jovens que usam a rede para escapar das barreiras e beber.

– Pode ver que um monte de gente mais velha é pega (nas blitze), porque a gente sempre dá uma olhada (na internet) – diz uma estudante de Economia de 28 anos.

Outra integrante do grupo, de 21 anos, afirma que costuma servir de motorista para os pais, já que eles não se arriscam a beber e depois conduzir um automóvel. Quando ela mesma sai, porém, não segue a mesma precaução.

– Levo e busco, ou eles voltam de táxi. O comportamento deles mudou por causa da Lei Seca, porque eles não têm acesso aos locais das blitze – afirma.

O lançamento da Balada Segura 2013 ocorrerá em um palco junto ao Espelho d’Água da Redenção, em Porto Alegre, a partir das 10h. Estão previstas atrações até as 14h, como distribuição de material, simulador de direção e show com o Guri de Uruguaiana.


A ilusão de que uma cervejinha não faz mal

Além da internet, até serviços oferecidos por celular prometem revelar a localização de pontos de fiscalização a condutores nas noites da Capital. Um deles promete a usuários das companhias mensagens com os locais a serem evitados pelos condudores mediante a digitação de uma determinada palavra e o envio para um número específico. Pelo serviço, paga-se R$ 0,31 a cada mensagem, mais impostos. Os próprios condutores ajudam a abastecer a rede de informações na internet enviando a localização dos pontos de fiscalização quando os avistam.

O diretor-presidente do Detran, Leonardo Kauer Zinn, afirma que não há como enfrentar as inesgotáveis fontes de informação da internet via celular. O caminho possível, ainda que longo, é insistir na educação dos motoristas.

– Queremos, não apenas pela aplicação da penalidade, que as pessoas comecem a entender que é necessário respeitar a vida. É uma questão cultural, e ainda estamos em processo de adaptação – observa.

Outros comportamentos observados entre os jovens são a ilusão de que “beber pouco” ou dirigir com mais cuidado e menos velocidade após consumir álcool vão resguardar o motorista de acidentes.

– A maioria das pessoas acha que só uma cervejinha não é problema – admite uma advogada de 23 anos que fazia parte do grupo de amigas reunidas na quinta-feira na Cidade Baixa, na Capital.

Para a doutora em Segurança Viária Christine Nodari, reverter esse tipo de pensamento não é fácil:

– É difícil, leva tempo, mas o melhor jeito é promover campanhas que apelem para o bom senso.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - DISCORDO. A internet, o jogo de luz e o celular não podem ser considerados inimigos, já que o que estas formas de comunicação são sempre utilizadas. Falta uma consciência coletiva para os malefícios que infratores embriagados causam no trânsito e  uma falta de educação das pessoas no trânsito que necessitam de programas educativos, ações preventivas e táticas evasivas e inopinadas no emprego de barreiras. Não me agrada o modo de atuação dos órgãos de trânsito  municipais que priorizam o coativo em detrimento de ações preventivas e programas educativos. Certa vez em Porto Alegre, fui barrado e fiscalizado no Balada Segura, porém,  ao elogiar a atuação de um agentes, este se mostrou truculento ao não aceitar o elogio, dizendo que estava ali para multar e não para prevenir ou educar. Que educar e prevenir eram responsabilidades de outros órgãos e não deles. Ora, se o agente de trânsito não educa quem vai educar? Quando a BM era responsável pelo trânsito, lembro das várias iniciativas e programas desenvolvidos para educar e prevenir infrações de trânsito, antecipando-se à ação coativa da multa e demais procedimentos.  


terça-feira, 14 de maio de 2013

CARROS BRASILEIROS INSEGUROS


ZERO HORA 14 de maio de 2013 | N° 17432


SEGURANÇA NO VOLANTE. Carros brasileiros colocados à prova

MARCELO GONZATTO

Uma reportagem elaborada pela agência de notícias Associated Press colocou em suspeita, diante do mundo, a segurança dos carros vendidos no Brasil.

O relato, reproduzido em meios de comunicação como o New York Times, indica que os veículos negociados no país têm menos equipamentos de proteção em comparação a similares vendidos em países desenvolvidos, e a própria estrutura dos modelos é mais frágil.

A reportagem, divulgada no fim de semana, gerou um debate sobre uma das razões que fazem o país registrar mais de 40 mil mortes ao ano em acidentes de trânsito – além da imprudência dos condutores e das más condições das estradas. Todos esses fatores, combinados, levam a resultados trágicos como as 35 mortes verificadas no Estado no final de semana do Dia das Mães.

O analista técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi) Alessandro Rubio, afirma que uma das principais carências dos modelos vendidos no Brasil é a falta de equipamentos como freios ABS (que evitam derrapagens) e airbag (que protege de impacto). Embora sejam regra nos Estados Unidos e na Europa há anos, aqui ainda estão em implantação. Somente a partir do ano que vem os carros novos deverão trazê-los como itens de série.

Hoje, conforme uma pesquisa feita por ZH em sites de montadoras, ABS e airbag podem encarecer o veículo em um valor que oscila ao redor de R$ 1,6 mil a mais de R$ 3 mil conforme o modelo – embora, em muitos casos, sejam oferecidos apenas junto com outros opcionais.

– Como o custo é alto e a lei não obrigava, as montadoras optaram por retirar esses equipamentos e oferecê-los como opcionais, principalmente nos modelos de entrada (mais baratos) – avalia Rubio.

A alta carga de impostos brasileira (que responde por mais de 30% da composição do preço) e uma margem de lucro elevada – que estaria ao redor de 10% contra uma média mundial de 5% – ajudam a explicar a preocupação com o corte de custos. O especialista do Cesvi lembra que o preço dos mecanismos antiacidente vem caindo devido à fabricação desses materiais no próprio país e à implantação gradual determinada pela lei. Este ano, 60% dos veículos novos já devem vir com ABS e airbag. Outro problema apontado é uma suposta maior fragilidade estrutural verificada em testes de colisão que começaram a ser realizados pela organização independente Latin NCAP nos últimos três anos.

– Pelo que os testes indicaram, as carrocerias dos carros vendidos aqui são piores do que as europeias, por exemplo. Os danos sofridos são maiores – avalia a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor - Proteste, Maria Inês Dolci, que participa da Latin NCAP.

Frota menos sofisticada

A reportagem da Associated Press sustenta que os veículos brasileiros teriam menos pontos de soldagem na carroceria, o que barateia a produção mas fragiliza a estrutura, e plataformas (sobre as quais o automóvel é montado) menos modernas. O consultor automobilístico André Beer contesta essa conclusão.

– A estrutura dos carros, em si, é a mesma aqui ou na Europa. O que ocorre é que, por razões econômicas, temos uma frota menos sofisticada, com menos equipamentos de proteção – analisa Beer.

O analista Alessandro Rubio, porém, sustenta que alguns modelos ainda usam plataformas que já deixaram de ser empregadas em países desenvolvidos.

– Nossas carrocerias não se deformam de maneira tão segura em caso de colisão. Isso é o que os testes realizados vêm demonstrando – argumenta Rubio.



Existem deficiências, garante especialista

MARCELO MONTEIRO

A notícia que colocou na fragilidade dos carros brasileiros a culpa pela carnificina do trânsito no país causou indignação entre os executivos da indústria automobilística. Técnicos da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) analisam as informações destacadas pela agência de notícias. A assessoria de comunicação da entidade promete para hoje uma resposta oficial, “clara e embasada em estudos”, aos pontos levantados.

Segundo especialistas ouvidos por Zero Hora, a reportagem levanta questões pertinentes, mas nem todas as afirmações podem ser levadas tão a sério. Conforme o consultor Milad Kalume Neto, da Jato Dynamics do Brasil, a diferença entre a metodologia aplicada nos testes de segurança realizados no Brasil e os feitos na Europa e nos EUA contribui para a disparidade no desempenho dos veículos fabricados aqui e no Exterior. No entanto, diz o especialista, de forma geral os carros brasileiros podem realmente ser considerados menos seguros, também em função das diferentes exigências legais:

– Existe uma deficiência. Comprando o mesmo veículo aqui ou lá, acredito que os carros brasileiros são mais inseguros. Entretanto, cumprem as legislações do país.

O diretor do Centro de Estudos Automotivos (CEA), Antônio Jorge Martins, considera natural a discrepância entre as leis que regem a segurança veicular. Para Martins, a legislação brasileira está evoluindo com a expansão do mercado:

– Existe um planejamento para que os carros nacionais passem a incorporar o leque de acessórios que existem em outros países. Temos regulamentações diferentes até pelo fato de sermos emergentes.

Carga tributária eleva o preço do carro do Brasil

Os carros brasileiros estão entre os mais caros do mundo em razão da grande carga tributária e da maior margem de lucro das montadoras – 10% no Brasil, contra 5% em outros países, em média. Mas, apesar dos preços altos, nem todos veículos saem de fábrica com ABS e airbag devido ao fato de que tais itens ainda são vendidos como opcionais.

– A competitividade passa pela busca de itens diferenciados, entre eles os de segurança. Hoje, em vez de reduzirem seus preços para aumentar a competitividade, as montadoras colocam mais acessórios. Mas se botam muito valor agregado, não vendem – diz Martins.



Ficção científica

GILBERTO LEAL

Afalta de uma cultura brasileira de segurança veicular é o elo da cadeia que envolve a polêmica sobre a qualidade do veículo nacional, o massacre nas ruas e nas estradas ou a omissão e a impotência de autoridades. O carro, o ambiente e o usuário se completam no círculo vicioso que transforma o trânsito brasileiro num risco permanente. A legislação deficiente, a imprudência e a impunidade compactuam com a convivência de veículos nem sempre atualizados ou conservados, rodovias precárias e condutores despreparados. Recursos básicos como os freios ABS, que reduzem a distância de frenagem, e os airbags frontais, que diminuem lesões no rosto ou no tórax, adotados nos EUA, na Europa e no Japão nos anos 80, só serão obrigatórios no Brasil a partir de 2014. Como o comprador prefere incrementar o carro com rodas esportivas e sistemas de som, os componentes de segurança passam longe dos carros populares. Airbags laterais e de cortina, controles de tração e de estabilidade comuns nos carros estrangeiros, não são prioridades nacionais.

A crise da economia mundial de 2008 levou os fabricantes desenvolverem veículos globais ao mesmo tempo em que ocorreu o salto dos mercados emergentes como o Brasil que disputa com a Índia o quarto o lugar no planeta. Os componentes de segurança são importados e pagam altos impostos, o que encarece e inibe o uso. Para o brasileiro, acostumado com o carro popular, pode parecer ficção certos equipamentos disponíveis em carros de luxo, mas que ficam ociosos como os sistemas de leitura de faixas e de placas nas rodovias pela sinalização deficiente. Outros reduzem a velocidade para evitar o choque. Tem até alerta de cansaço que avisa o condutor que está na hora de parar para evitar acidente mas que aqui, na maioria das vezes, é ignorado.

OUTRA BATALHA PERDIDA NA GUERRA DO TRÂNSITO


ZERO HORA 14 de maio de 2013 | N° 17432

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA


Foram 35 as baixas na guerra do trânsito entre o meio-dia de sexta-feira e o final da manhã de ontem. No fim de semana do Dia das Mães, que nem feriadão era, a contabilidade macabra superou a de países em guerra civil. O trânsito no Rio Grande do Sul matou mais do que os últimos atentados à bomba ao redor do mundo. Deixou famílias enlutadas em diferentes pontos do Estado. Filhos órfãos, pais e mães arrasados pela perda de filhos, irmãos abalados pela morte de irmãos, amigos chocados, estranhos impactados pela violência do trânsito. Como explicar tantas mortes num único fimde semana?

As fotos dos carros dão uma pista, mas não a resposta inteira. A falta de estradas duplicadas é apenas uma hipótese. Na maioria dos casos, os indícios são de imprudência: excesso de velocidade e ultrapassagens perigosas. Há casos de choque em árvores, saída de pista, atropelamento. Há carros novos e velhos, potentes e de baixa cilindrada. E motos, porque a participação dos veículos de duas rodas tem ajudado a engrossar as estatísticas macabras.

Se boa parte das mortes ocorreu por excesso de velocidade, de quem é a culpa? Do motorista que não respeita os limites, em primeiro lugar, mas também da falta de fiscalização. Há radares de menos para carros de mais. Os pardais nas estradas estaduais estão desativados há dois anos, e os motoristas imprudentes se aproveitam dessa situação para correr sem risco de levar multa. E o que diz o Daer? O mesmo que dizia no ano passado: a concorrência está em andamento. A última informação é de que o Termo de Referência do edital de licitação dos pardais está pronto e foi encaminhado à Central de Licitações do Estado. Em resumo, que não há previsão para a publicação do edital, muito menos para a instalação dos pardais (confira a íntegra da explicação em www.zerohora.com/blogdarosane).

Não se sabe, até o momento, em quantos dos acidentes os motoristas estavam sob influência de álcool ou de drogas. Também não se sabe de quem foi a culpa – nas colisões frontais, é comum que um dos carros esteja trafegando dentro das regras e seja atingido pelo infrator. As investigações mostrarão os casos em que houve problemas na pista ou falta de sinalização, mas há exemplos de choques em estradas retas e bem sinalizadas.


ALIÁS

Reportagem do jornal The New York Times mostra que, no Brasil, carros são fabricados com material de qualidade inferior ao de outros países e sem itens básicos de segurança, o que pode explicar pelo menos parte das mortes.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

DIA DAS MÃES TRÁGICO NO TRÂNSITO DO RS


ZERO HORA 13 de maio de 2013 | N° 17431

RETRATOS DA DOR. Final de semana foi o mais violento desde o de Carnaval, com 25 mortos


A pensionista Áurea Rosélia Chaves, 60 anos, havia planejado receber em sua casa ontem os três filhos, as noras e os netos para um almoço especial de Dia das Mães. Em lugar disso, foi sepultada com o filho do meio, Renato Chaves, 32 anos, enquanto o mais velho, Leandro Chaves, 34 anos, estava internado em um hospital, com inúmeras fraturas e um hematoma no cérebro.

Os Chaves foram uma das famílias abaladas em um fim de semana de invulgar violência no trânsito. Entre a noite de sexta-feira e a tarde de ontem, pelo menos 25 pessoas morreram em ruas e estradas gaúchas, o maior número desde o Carnaval e mais do que o dobro do registrado no ano passado, quando houve nove mortes. Em diferentes pontos do Estado, um mesmo tipo de imagem serviu de símbolo para a carnificina nas estradas: a de carros destroçados, retorcidos, esmigalhados.

Moradores de Porto Alegre, Áurea, Renato e Leandro viajaram na quinta-feira a Rivera, no Uruguai, para fazer compras. Na sexta, tomaram a estrada de volta à Capital, para realizar a tradicional reunião a redor da matriarca no domingo. Como era habitual, os três filhos fariam um churrasco, enquanto Áurea se encarregaria dos demais preparativos e acompanhamentos.

Os planos faram desfeitos às 19h de sexta, no km 485 da BR-158, em Rosário do Sul. O Sandero conduzido por Leandro bateu de frente com um Palio dirigido por Gil Fagundes Borges, 26 anos, que também morreu.

Ontem, enquanto mãe e filho eram sepultados juntos no cemitério João XXIII, em Porto Alegre, o gerente de informática Leandro estava internado no Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, em Rosário do Sul. Ele ainda não sabia das mortes. No hospital, quem o acompanhava era a mulher, a pedagoga Doralisa Oliveira, 37 anos. As duas filhas do casal ficaram na Capital.

– Estou longe das minhas filhas no Dia das Mães, perdemos a vovó, que era tudo para as netas, e perdemos também o dindo delas. Pelo menos tenho a oportunidade de estar com meu marido – consolou-se Doralisa.

O analista de logística Renato, o filho que morreu, tornou-se pai há apenas cinco meses. Ontem foi o trágico primeiro Dia das Mães de sua mulher. Áurea tinha ainda um terceiro filho, Eduardo Chaves, de 32 anos.