sexta-feira, 16 de maio de 2008

Fraude em CFC coloca motoristas incapacitados nas ruas


Detran apura suspeita de fraude em CFC.Instrutor chegou a ajudar candidato a fazer a prova - Giovani Grizotti com a colaboração de Sâmia Frantz, publicado em ZH de 16 de maio de 2008.

Dois auditores do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) estiveram nesta quinta-feira em um Centro de Formação de Condutores (CFC) de Santa Cruz do Sul apurando supostas irregularidades em cursos especiais de transporte coletivo, escolar, de emergência e de cargas perigosas. A suposta fraude daria ao aluno o diploma sem comparecer às aulas, apenas realizando a prova.

Um candidato inscrito pela RBS TV pagou o valor do curso — R$ 100 — e teve acesso ao documento. Por telefone, o instrutor garantiu não haver chance de a fraude dar errado e que o fato de ele ser reprovado na prova não iria interferir na obtenção do diploma.

— Não tem problema nenhum. O Detran não quer saber. Se eu for fazer à ponta da faca, aí não passa ninguém, né? Só o Detran que exige uma palhaçada dessas aí — disse o instrutor ao repórter.

Chegando ao CFC, o aluno enviado pela RBS TV preencheu um cadastro na sala de aula e, em seguida, foi embora, sem assistir à primeira aula. Dez dias depois, retornou ao local somente para fazer a prova. O instrutor, que elabora as 20 questões do exame, chegou a ajudar os alunos no preenchimento das respostas, indicando qual é a correta. Depois do exame, o diploma ficou pronto em cinco dias e foi entregue ao Detran.

Segundo a assessoria de imprensa da instituição, o Detran recebeu a informação na sexta-feira passada. Na segunda-feira, abriu um processo administrativo para apurar e buscar provas da suposta fraude.

As aulas dos cursos especiais estão suspensas até o fim do processo. Uma cópia do processo administrativo final será encaminhada ao Ministério Público para que a responsabilidade penal também seja verificada.

Caso comprovada a irregularidade, o CFC pode ser suspenso e até mesmo descredenciado do Detran. A mesma penalidade pode ocorrer com o instrutor.

Para o transporte coletivo, escolar, de emergência e de cargas perigosas, o motorista precisa freqüentar um curso de 50 horas em CFCs. O objetivo é aprender lições específicas sobre cada tipo de transporte, como legislação de trânsito, primeiros socorros, relacionamento interpessoal e direção defensiva. O valor é de R$ 100, com exceção do curso de cargas perigosas. Neste caso, o preço sobe para R$ 150.

O que diz o CFC

Por meio de funcionários, o proprietário do CFC, Osvaldo Oliveira, disse não ter nada a declarar, já que as visitas dos auditores "seriam apenas informais". Já em entrevista à RBS TV, o advogado do centro, Luís Swarowski, disse desconhecer as irregularidades e considerar as denúncias improcedentes.

— Se for verdade, a fraude deve vir à tona nos próximos dias e, certamente, será apurada — declarou.

Comentário do Bengochea - Os responsáveis por esta fraude deveriam ir para cadeia punidos como criminosos. São partícipes das inabilidades, imprudências e loucuras no trânsito, pois colocam condutores não habilitados para transportar pessoas já no papel de vítimas em potencial. É um crime gavíssimo que deve ser punido com rigor, sob pena da sociedade se render a mais um tipo de impunidade.